Em maio de 2025, os Estados Unidos anunciaram a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, reacendendo a tensão comercial entre os países e levantando uma questão urgente: quem paga essa conta?
A resposta, infelizmente, não está no campo político. Está no chão das empresas — especialmente nas de base tecnológica, que agora lidam com o risco real de ter sua operação comprometida.
Enquanto a medida pode parecer apenas uma jogada geopolítica, seus efeitos práticos são diretos e profundos. O Brasil ainda é altamente dependente de infraestrutura, softwares e serviços norte-americanos para rodar suas operações digitais — e isso tem consequências.
📊 Segundo a Brasscom, 60% das empresas de tecnologia no Brasil utilizam serviços de nuvem fornecidos por gigantes americanas como:
- Amazon Web Services (AWS)
- Google Cloud
- Microsoft Azure
Com a nova tarifa, todos esses insumos e serviços ficam mais caros, o que acarreta:
- Redução de margem
- Reajustes de preço
- Recuo de investimentos
- E até mesmo o risco de saída de players internacionais do mercado brasileiro
Startups e e-commerces são os primeiros a sentir
Startups, scale-ups e e-commerces que dependem de escalabilidade, tecnologia e interoperabilidade serão os mais afetados — justamente os negócios que têm sido o motor da inovação brasileira.
E o impacto não é só na operação. É no modelo de negócio como um todo:
- Maior dificuldade para captar investimento
- Aumento do risco regulatório
- Insegurança para parcerias internacionais
Tudo isso em um momento em que o Brasil tenta se posicionar como hub de inovação na América Latina.
Retaliação ou estratégia?
A resposta do governo brasileiro veio com a Lei da Reciprocidade (Lei nº 15.122/2025), que autoriza medidas retaliatórias contra países que adotarem práticas discriminatórias contra o Brasil.
Mas aqui entra uma reflexão importante: retaliar empresas americanas pode soar firme no discurso, mas quem de fato sofrerá o impacto são as empresas brasileiras que dependem dessas relações comerciais.
O Brasil está em posição assimétrica: enquanto os EUA detêm a liderança em cadeias globais de valor tecnológico, o Brasil ainda cumpre papel secundário como consumidor e integrador.
Existe saída? Sim: planejamento, cooperação e infraestrutura
Alternativas estratégicas já estão em debate. O Plano Nacional de Data Centers (ReDATA), apresentado em maio, propõe a redução de tarifas de importação para equipamentos tecnológicos, incentivando a modernização da infraestrutura digital brasileira.
É um caminho inteligente. Em vez de cortar relações comerciais, o Brasil pode:
- Investir em capacitação tecnológica interna
- Reduzir dependência estratégica sem romper alianças
- Criar ambiente de inovação mais competitivo e previsível
Conclusão: o futuro da inovação exige mais do que reação
O aumento da tarifa de 50% por parte dos EUA expõe um dilema importante para o setor produtivo: reagir com impulsividade ou construir uma política industrial sólida e de longo prazo?
Retaliações podem gerar ruídos momentâneos, mas a competitividade do Brasil se constrói com estabilidade, estratégia e visão de futuro.
A tecnologia brasileira — e todos os empreendedores que investem nela — precisam de segurança regulatória, não de incerteza. O momento é de reforçar a autonomia tecnológica com responsabilidade e articulação global.

